segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Blog: Casa do Quengo, do Profesor Rafael Batista

"A Arte ensina à vida o seu dever..."

Fico impressionado e cada vez mais convencido do poder da arte de nos fazer enxergar a realidade de uma maneira diferenciada (mais alta. Mais certa?). Por meio dela percebemos que a inventividade, a imaginação não se configura como mentira, mas como um universo alternativo, justamente para nos forçar a ver o que nos era negado – pelo outro e por nós mesmos. Nas palavras de Pessoa: “eu simplesmente sinto com a imaginação”...
Num primoroso conto de Monteiro Lobato (“Duas cavalgaduras”), um leitor fictício numa certa altura da narrativa pergunta ao narrador: “Mas isto, afinal de contas, é vida ou romance?”. Ao que ele responde: “Grande tolo... É a vida com a lição da arte. A arte corrige a vida, dizendo-lhe: se não és assim, fera, devias sê-lo; se não procedeste assim, harpia, devias ter procedido (...) A arte ensina à vida o seu dever.
Penso isso pela dificuldade em que me vejo muitas vezes ao discutir tal assunto com alunos – esse potencial de suspensão de uma realidade material, palpável, mas que mantém a todo momento comprometimento com ela, ainda que fale das coisas mais absurdas. Desse modo, o mundo coberto de preás de Baleia, os gigantes-moinhos de Dom Quixote, os baobás e as rosas do pequeno Príncipe nos apontam a supremacia de sonhar a vida. Na leitura experimentamos um eixo interminável de possibilidades de existir, seja na identificação com as personagens, seja na intromissão ao julgar as traições e transações de outras vidas que não a nossa, de outras dores que não as nossas. E prosseguimos lendo e alimentando essa máquina preguiçosa que é o texto (como afirma Umberto Eco), dando forma às diversas encadernações em que podemos existir.

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