Acabou a piada mas não houve risos, não houve aplausos. Porque
não havia público, ele estava sozinho. E por alguma razão, o palhaço achou
graça. Deu uma risada doentia e quebrou a vidraça. Ao invés de marreta, seu
corpo foi a ferramenta, jogado contra a janela. A lua refletiu brilhante nos
cacos de vidro. O palhaço ainda sorrindo, mirou onde o corpo iria cair. Fechou
assim, com chave de ouro, o espetáculo. Sua última piada foi letal, fatal,
mortal. A lança pontiaguda da grade lhe atravessou o peito, mas estranhamente
ele ainda sorria. De uma certa forma, o riso do palhaço nunca morreria. A
polícia chegou, o povo parava pra assistir, o palhaço pendurado na grade, o corpo
sangrando e os olhos mortos vendo o sol surgir. A multidão horrorizada jamais iria
compreender: sem público para lhe aplaudir, o palhaço preferiu morrer.
Nota da autora: Eu ainda tô viva. :)