sexta-feira, 15 de março de 2013

Não haverá misericórdia.





Ontem fui dormir sossegado,
Com aquela sensação de dever cumprido.
Acordei com a Morte ao meu lado,
Sussurrando em meu ouvido.

"Venha comigo" ela dizia.
Mas eu não queria não.
"Está na hora", ela dizia,
Enquanto me olhava sem emoção.

Naquela hora eu me lembrei
De todas as coisas que eu havia feito
Foi então que eu chorei,
Perdi minha vida tentando ser perfeito.

"Não chore", ela dizia,
Enquanto tentava me levar.
"Não vou", eu lhe dizia,
Mas ela não parecia se importar.

A Morte ia me abraçando
Como se quisesse consolar.
Mas o abraço foi se apertando
E eu não conseguia me soltar.

"Não lute", ela dizia.
"Vou te mostrar um caminho"
"Socorro!", eu pedia.
Mas naquela hora, eu estava sozinho.

A Morte me soltou,
Eu sentia muito frio.
Um discurso ela começou,
Num tom meio sombrio:

"Perdeste tua vida
Tentando se encaixar onde não cabias.
Nestes dias tão quentes,
Tuas noites eram frias.
Tens a sensação de que acabou o jogo
Era apenas uma pausa e você não viu
Que tolo!
Não pensaste que um dia eu pudesse aparecer
Não lembraste que um dia tu irias morrer!
Destruiste tua vida por tuas próprias escolhas
Trataste teus dias como revista e simplesmente passaste as folhas.
Não sabe o que é compaixão
Não amaste ninguém
Viveste uma ilusão, pois a perfeição
Nenhum ser humano tem.
Cadê toda a sua arrogância?
Seu ego inflado sumiu?
Hoje foi a minha vingança
Seu castelo de areia ruiu."

Dito isto, a Morte desapareceu.
Os enfermeiros foram me levando.
Ninguém acredita que isso tudo aconteceu
E a camisa de força machuca de vez em quando...

E se você encontrasse com a Morte hoje, o que você faria? O filme que vai passar diante dos seus olhos é aventura ou comédia?

Beijocas, miau.